O fato de emissoras de televisão
funcionarem com concessão pública, em caráter personalíssimo, não retira a
liberdade para que definam o conteúdo veiculado nem impede a venda de horários
para terceiros produzirem programas. Assim entendeu o juiz Djalma Moreira
Gomes, da 25ª Vara Federal de São Paulo, ao negar pedido do Ministério
Público Federal, que queria proibir emissoras de conceder horários para
programas de igrejas.
O caso teve início em 2014, quando o
grupo CNT passou a transmitir programas religiosos produzidos pela Igreja
Universal do Reino de Deus. O contrato fixava exibições diárias, entre 0h e
22h, de forma ininterrupta, pelo prazo de oito anos.
A veiculação desses programas,
conforme o MPF, viola as normas constitucionais, legais e regulamentares, por
representar subconcessão de bem da União e ultrapassar o limite estipulado para
a publicidade na programação televisa, que equivale a 25% do conteúdo. Segundo
a ação, o ato de pagar pelo horário mostraria que as igrejas fazem negociação
publicitária.
Já a União afirmou no processo que o
Ministério das Comunicações não tinha conhecimento de problemas e manifestou o
entendimento de que “as irregularidades detectadas no conteúdo produzido por
terceiros são de responsabilidade da geradora”. Afirmou também que não era
possível saber se houve infração sem acesso ao conteúdo do contrato.
Todas as rés na ação apontaram a
impossibilidade jurídica do pedido e defenderam que a grade de programação pode
ser objeto de venda.
Para o juiz, a tese no MPF não se
sustenta por dois motivos. O primeiro é que o conceito de publicidade comercial
não deve ser confundido com a "comercialização da grade de programação".
Outro ponto considerado na sentença é
que exibir conteúdo de autoria de terceiros é prática aceita pela legislação,
assim como a venda do espaço na grade de programação está dentro do interesse
de lucro de uma empresa privada.
Gomes afirmou que, embora “este magistrado
reconheça o estranhamento que a comercialização da grade televisiva de uma
concessionária do serviço de radiodifusão privada possa causar, reputo
tratar-se de procedimento que não encontra vedação no plano constitucional,
legal e infralegal, de modo que orientação em sentido diverso depende da
atuação do Congresso Nacional”.
Sem recurso
A sentença foi assinada em abril, e o MPF já manifestou que não apresentará
recurso. O caso foi apresentado pelo escritório França da Rocha
Advogados.
O procurador Bruno Costa Magalhães
reconheceu nos autos que não é possível caracterizar o contrato de
comercialização como descumprimento do percentual destinado, porque “programas
de cunho religioso e cultural não podem ser considerados, em tese, como
publicidade comercial”.
O procurador concordou também com a
alegação de que a “veiculação de conteúdo produzido por outras pessoas ou
entidades que não a concessionária não apenas é permitida mas estimulada no
ordenamento jurídico”.
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