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quarta-feira, 4 de julho de 2018

"É PRECISO ADAPTAR ARRANJOS INSTITUCIONAIS IMPORTADOS DE OUTROS SISTEMAS POLÍTICOS"



Os julgamentos do Plenário do Supremo Tribunal Federal, às quartas e quintas-feiras, citam, vez ou outra, uma frase em alemão, uma doutrina do país europeu ou um autor germânico. Uma teoria importada de lá, por exemplo, teve forte impacto no Brasil em 2013: a do domínio do fato, trazida para o julgamento da Ação Penal 470.
Era o processo do mensalão e todos os holofotes estavam sobre o Supremo. Desenvolvida entre as décadas de 1930 e 1960, a tese foi trazida pelo Ministério Público, que não apresentou provas que ligavam diretamente alguns dirigentes de partidos e executivos de bancos aos supostos crimes. No ano seguinte, Claus Roxin, professor alemão que se dedicou ao tema e principal autor sobre o domínio do fato, veio a público dizer que suas ideias haviam sido deturpadas.
Aquele momento colocou em evidência o uso da jurisprudência alemã no sistema brasileiro, mas não foi a primeira vez. Especialistas brasileiros discutiram o tema à época e tem discutido ainda a importação de jurisprudência nas decisões atuais. O pesquisador Arnaldo Godoy, no entanto, foi até a raiz do apreço brasileiro pelo Direito alemão: estudou a vida de um dos primeiros juristas a buscar respostas na produção acadêmica do país europeu.
Com pós-doutorado no Instituto Max-Planck de História do Direito Europeu, em Frankfurt, Godoy é autor do livro Tobias Barreto, uma biografia intelectual do insurreto sergipano e sua biblioteca com livros alemães no Brasil do século XIX. O lançamento acontece em Sergipe, onde nasceu o estudado, nesta terça-feira (3/7).
O interesse surgiu tanto da observação da afeição brasileira pelos estudos e teorias alemãs como da descoberta da biblioteca de Tobias Barreto, conforme contou Godoy em entrevista à ConJur. De um acervo de cerca de 430 livros, mais de 100 eram em língua alemã, enquanto seus contemporâneos bebiam na fonte dos franceses.
Personagem importante da história do pensamento jurídico brasileiro, Tobias Barreto foi o primeiro brasileiro a citar Karl Marx e o primeiro também a falar em direito autoral. Professor, integrou a Academia Brasileira de Letras, mas também se dedicou à política. Por meio dos estudos e da vida de Barreto, Godoy discute a transposição de ideias de uma cultura à outra, que, para ele, no caso brasileiro, merece mais cuidado.


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